The lovely Rachel

Por Patricia Morgado e Tino Monetti

Entrevista a Paramount Home Entertainment do Brasil

Se pudesse fazer uma linha cronológica de sua vida, a da estrela Rachel Weisz a dividiria em dois grandes momentos: antes e depois da maternidade. Mãe de Henry Chance, hoje com quatro anos, ela curte cada etapa do nascimento do herdeiro e concilia muito bem a rotina pessoal com a profissional. "Adoro passar o tempo com meu filho. Outro dia ele me acordou e perguntou se a grande luz já estava ligada. Só então percebi que ele estava falando sobre o sol. Conversar com meu filho é muito divertido. Agora ele fala muitas coisas e está mais memorável", afirma.

Alçada como grande atriz em 2005, após interpretar Tessa Quayle em O Jardineiro Fiel, de Fernando Meirelles, Rachel ganhou o reconhecimento da crítica especializada e acumulou em sua bagagem um Oscar, um Globo de Ouro e uma indicação para os prêmios BAFTA. "Ganhar um Oscar significa diretores muito interessantes lhe oferecerem papéis muito interessantes. Então, definitivamente, abrem-se mais portas para você. Por isso, sou muito grata. O interessante é que pude vivenciar dois grandes eventos em um curto período de tempo" recorda a celebridade, ressaltando que na ocasião em que recebeu a estatueta estava grávida de sete meses de Henry.

Fruto da união de seu relacionamento como diretor Darren Aronofsky, o primogênito descobre, desde pequeno, como é o dia a dia de um superstar. Isso porque, vez ou outra, Rachel o leva aos sets de filmagem. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando aceitou integrar o elenco de Um Beijo Roubado, em 2007, um de seus primeiros filmes pós-gravidez. Além de trazer Henry a tiracolo, a estrela fez questão de trabalhar por um tempo que não fosse estafante nem para ela, nem para o bebê. "A maternidade mudou a minha perspectiva de vida e a forma como eu vejo as coisas", analisa.

Hoje, já mais adaptada à nova rotina, Rachel harmoniza muito bem o seu tempo. E propostas para bons trabalhos não param de chegar. Depois de filmar Dream House e The Whistleblower, suas próximas estreias, comenta-se que a jovem interpretará ninguém menos que a primeira-dama Jacqueline Kennedy Onassis no filme Jackie. A história abordará os momentos finais de John F. Kennedy, presidente dos Estados Unidos entre os anos de 1961 e 1963. Também há rumores de que ela estará na nova produção de Sam Mendes, Bond 23. Enquanto os burburinhos não se confirmam, a estrela dos filmes Beleza Roubada (1996), A Múmia (1999), Um Grande Garoto (2002) e Constantine (2005), fala com exclusividade à Chiques e Famosos sobre Um Olhar do Paraíso, longa-metragem dirigido por Peter Jackson que acaba de chegar em DVD e Blu-Ray ao mercado brasileiro. No longa, que conta com nomes de peso, como Susan Sarandon e Mark Wahlberg, ela vive Abigail Salmon, mãe de Susie, uma garota de 13 anos que, ao morrer, encontra um estranho e belo mundo intermediário no qual tem de ajudar o pai a capturar seu assassino e proteger sua família antes de finalmente partir.

O filme Um Olhar do Paraíso é baseado no romance de Alice Sebold. Era fã do livro antes de aceitar a personagem?

Tenho de ser honesta: acho que eu era a única pessoa no planeta que ainda não tinha lido o livro quando me ofereceram o papel. Eu me tornei fã depois e li muitas e muitas vezes. Tornou-se minha bíblia enquanto estava fazendo o filme.

Então, primeiro veio a oferta e depois sentiu vontade de ler o livro?

É. Eu deveria ter mentido sobre isso. Deveria ter dito apenas que li o livro.

Na história, sua personagem, Abigail Salmon, tem de aceitar a perda de sua filha de 13 anos. Na vida real você é mãe de Henry, de 4 anos. Como mãe foi mais difícil essa interpretação?

Na verdade, eu não acho que tenha sido mais difícil porque sou mãe. É uma pergunta difícil. É como dizer: "Teria sido mais fácil se você não fosse uma mulher?" É duro. lsso é o que sou agora, uma mãe. É difícil me imaginar sendo outra coisa. Como pais, sempre verificamos se nossos filhos estão respirando. Faz parte da paternidade. Eu tenho certeza de que é arte da natureza, nós estamos nos certificando de que eles estão seguros o tempo todo. Tenho certeza de que há algumas razões evolutivas para isso.

Algumas pessoas dizem que sua personagem não é simpática. O que acha disso?

O que me interessou nela, o que você chama de antipatia e eu entendo totalmente, era o fato de que ela é o oposto de uma heroína. Ela é uma espécie de anti-heroína de muitas formas. Esta tragédia atinge sua família e ela não consegue "segurar a onda" de uma forma nobre. Ela se desestrutura totalmente e faz tudo errado, o que me interessou muito. Amo histórias sobre pessoas nobres também, mas amei a ideia de que, como na realidade, algo como isso acontece e qualquer pessoa pode ser derrubada.

De certa forma, é um poderoso retrato de algumas mulheres.

É um poderoso e verdadeiro retrato de uma mulher, e uma mulher que teve a carreira negada pelas circunstâncias, que foi tendo filho após filho mesmo com uma parte dela sentindo que ela não deveria ser mãe; há milhões de mulheres que se sentem desta forma. Isso faz muitas pessoas olharem para ela de uma maneira nada simpática, o que eu entendo, mas o que ela sente é muito verdadeiro.

Sua personagem em Um Olhar do Paraíso não quer que o sumiço de sua filha seja resolvido. Você entende isso?

Eu consigo compreender totalmente que, como mãe, você pode se sentir de duas formas neste caso: que tudo vai melhorar quando você encontrar o assassino, ou que nada mudará se ele for encontrado e pensar que não importa, que não adianta falar sobre isso. Eu entendo os dois pontos de vista, o do marido e o da esposa. Pode ser uma resposta masculina querer encontrar a pessoa que cometeu o crime e fazer justiça, ao mesmo tempo que para uma mulher não, já que nada vai mudar efetivamente para ela. Eu a vejo como uma ótima mãe até o momento do assassinato de sua filha. Só porque você tem acesso à sua mente como leitor, e descobre que às vezes ela acha que não deveria ter sido mãe, não quer dizer que ela não possa ter sido uma ótima mãe até este ponto. As duas coisas podem ter coexistido dentro dela. Há muito espaço para a dúvida.

Para qualquer mãe, ter seu filho abduzido deve ser o sofrimento mais pavoroso.

O que é interessante no livro, e nós dizemos isso no filme também, é que era o começo dos anos 1970, e eu também não sou norte americana, mas houve um momento nos anos 1980 em que crianças começaram a desaparecer e seus pais colocavam suas fotos em caixas de leite. No café da manhã, você iria ver estas crianças desaparecidas, e a ideia que eu faço dos anos 1970 é de que eram mais inocentes, havia menos disso. As pessoas viviam no subúrbio e não trancavam suas portas. Eram tempos mais inocentes, mais näive. Eu penso que o mundo está ficando pior, mais terrível.

O que você gostaria que o público pensasse sobre Abigail após ver o filme?

Não gostaria de ditar nada. Acho que isso é o bacana do filme, você saber que esses elementos estão no livro. É uma historia realmente trágica, mas ao mesmo tempo tem muito de esperança e otimismo. Acredito que era isso que Peter (Jackson) queria. Ele não queria fazer um filme sombrio.

Como trabalhar com Mark Wahlberg? Alguma coisa dele a surpreendeu?

Ele é muito profissional, sério e dedicado. Eu não sei se isso me surpreendeu, mas ele é. Um ator muito profissional.

E como era o clima no set?

Muito antidepressivo, considerando o tema. Foi bastante divertido. Muitas crianças em volta e o cachorro, Holiday. Eu não sei se o cachorro tinha substituto. Nós tínhamos outro cachorro, mas ele foi demitido antes de eu ir para o set. Acho que ele mordeu alguém.

Como foi trabalhar com Peter Jackson? Como ele é?

Muito doce. Ele trabalha muito próximo a Fran Walsh, sua parceira de longa data, e Philippa Boyens, sua produtora. Ele se envolve sempre com elas e os três trabalham juntos de forma muito próxima. Eles são excêntricos à sua maneira, mas pessoas muito doces.

O filme foi parcialmente rodado na Nova Zelândia. Muitas pessoas que visitam o país se apaixonam pelo lugar.

É lindo. É muito, muito bonito. Eu só não fiquei enlouquecida porque é muito longe e eu não gosto de aviões. Não porque eu pense que vá morrer, mas não me sinto bem voando por longas distâncias. Mas é lindo e a comida é incrível.

Algum restaurante específico que tenha amado?

Os bufês de catering no filme. Foi a melhor comida que já provei.

Você sente que foi feita para ser mãe?

Sou muito boa nisso, mas eu não sabia antes, não. Foi muito assustador antes, mas eu realmente me dediquei a isso. Realmente amei a experiência.

Você escreve as coisas que Henry diz?

Não, mas deveria.

Seu noivo também trabalha na indústria cinematográfica. Vocês conversam muito sobre negócios e cinema em casa?

Não, nós temos uma vida normal de família e não falamos muito sobre isso. Às vezes falamos e outras não. É bom ter um parceiro que entende meu trabalho e vice-versa.

Fale sobre Ágora, outro de seus trabalhos.

É um filme muito caro e radical. Foi o segundo de maior bilheteria na história da Espanha, o que é louco por ser um filme de arte. É em inglês com legendas, mas é um filme de arte. E por isso falo da bilheteria, que não é algo que faço normalmente.

Um Olhar do Paraíso fala sobre o pós-vida. Fez você pensar sobre o que há depois da vida?

O que eu penso sobre isso pessoalmente? Uh, eu não acredito, mas concordo que serve de boa base para histórias.

O que é Paraíso para você?

Paraíso são momentos aqui na Terra. Eu acho que é tudo aqui. Inferno e céu. Fáceis de encontrar.

Publicado originalmente na Revista Chiques e Famosos em 2010 - Ano 3 - número 29