Por Patricia Morgado
A Psiquiatria ainda sofre com o preconceito. Muitos ainda usam o termo "médico de louco" para se referir à profissão. Ocorre que a maioria desconhece o trabalho do psiquiatra e há ainda os que confundem com o do psicólogo. O psiquiatra estuda diagnósticos de doenças mentais, como ansiedade, depressão, fobia e esquizofrenia - perda de contato com a realidade.
Um psiquiatra é antes de tudo um médico. Isso o diferencia totalmente dos psicólogos. Ele identifica doenças e não problemas, o que o torna capaz de receitar medicamentos, se necessário. O psicólogo trabalha os aspectos da personalidade, sendo responsável pelo tratamento essencialmente de traumas.
O tratamento dos problemas mentais sempre foi um peso para as sociedades. Durante muito tempo, pessoas com distúrbios mentais eram marginalizadas. No final do século 19 era comum isolar os excepcionais. Philippe Pinel (1745- 1826), considerado o pai da Psiquiatria, foi o primeiro cientista a dar um tratamento humanístico aos doentes mentais. Mas o preconceito da sociedade quanto ao tema sempre esteve presente, tanto que a palavra pinel passou a ser sinônimo de louco na nossa língua. A partir dos estudos publicados por Pinel, a Psiquiatria passou a se desenvolver como Ciência.
Quem deseja se tornar um psiquiatra, tem de fazer Medicina. No último ano deverá se inscrever para fazer residência nesta área, com duração de dois a três anos. Para tornar-se um especialista, será preciso fazer a prova pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Associação Médica Brasileira (AMB).
Miguel Roberto Jorge, de 50 anos, presidente da AMB, ressalta as vantagens de se obter o título de especialista. "As certificações são importantes, pois as chances de trabalho são maiores. Alguns hospitais exigem esse requisito para contratar um psiquiatra", afirma.
A lei federal 9.666, de 1998, determinou que os convênios médicos ofereçam os clientes a cobertura de tratamento psiquiátrico. Essa abertura permite maiores oportunidades de trabalho a esse médico. A mudança, no entanto, não é bem vista pela psiquiatra Lucinda do Rosário Trigo, de 48 anos. Ela teme que o aumento da oferta de empregos contribua para a queda da qualidade no tratamento de pacientes. "Os convênios pagam pouco e os psiquiatras passam a ter de atender muitas pessoas em pouco tempo."
No ramo há 22 anos, Lucinda é diretora e proprietária da Conviver, clínica especializada para atender portadores de transtornos mentais. A médica acredita que o preconceito da sociedade em relação aos doentes mentais interfere muito na recuperação do paciente. "Algumas só procuram auxílio quando os sintomas estão acentuados. Isso dificulta a recuperação", revela.
Os psiquiatras, em geral, acreditam que a solução para acabar com o desconhecimento da população é investir em campanhas de esclarecimento que expliquem a verdadeira função deste médico.
O campo de trabalho é bastante amplo: consultórios particulares, ambulatórios, hospitais ou órgãos de tratamento públicos e universidades. Todo o trabalho é bastante delicado. O tratamento de pessoas com distúrbios mentias pode prejudicar a estrutura psicológica do médico.
Para evitar problemas, o psiquiatra precisa constantemente trocar informações com colegas de profissão. Para Sérgio Vieira Bettarello, de 44 anos, coordenador do centro de reabilitação do Instituto do Psiquiatria do Hospital das Clínicas, é preciso "ter empatia com as questões humanas e gostar muito de lidar com pessoas".
Muitos profissionais ganham por consulta enquanto outros tem salário fixo mensal. O valor mínimo de cada consulta é de R$ 180.
Publicado originalmente no jornal Diário Popular em 17 de junho de 2001 - Cadernos de Empregos - Ano 4 - número 200