Mercado têxtil cria profissão
Por Patricia Morgado
O desenvolvimento tecnológico das indústrias têxteis do País, a partir de 1999, já apresenta resultados positivos no mercado de trabalho. O crescimento das exportações e os sucessivos investimentos no setor ampliaram a necessidade das empresas de conseguirem mão-de-obra-especializada. Baseado nisso, foi criado um curso universitário sobre tecnologia do vestuário, oferecido pela Escola Senai, em São Paulo.
O curso formará profissionais aptos para gerenciar todo o processo de industrialização do vestuário, desde a formação até a parte final, quando o produto está pronto para ser comercializado. A duração do curso é de três anos, sendo um ano e meio destinado à parte prática, na qual o aluno fará um estágio supervisionado nas empresas.
O coordenador do curso, Edmundo da Silva Pedro, 34 anos, afirma que com a formação acadêmica, é possível formar profissionais mais capacitados. O gerente de produção é uma profissão antiga, mas as pessoas que atualmente exercem esse cargo carecem de conhecimento teórico. “Hoje os profissionais que atuam na área são formados em Administração de Empresas ou Engenharia. Não possuem formação específica no ramo de vestuário, mas meramente empresarial, o que torna o conhecimento todo voltado à prática”, afirma Edmundo.
Há cinco anos os sindicatos do ramo pressionavam a aprovação do curso pelo MEC, o que só ocorreu no ano passado. Pedro Fortes, 47 anos, secretário executivo do Sindicato da Indústria do Vestuário, que coordena cerca de 8000 empresas, foi um dos idealizadores do curso. Ele acredita que o profissional formado terá grandes chances de ser empregado pelas pequenas e médias empresas. “São estas empresas que oferecerão empregos, oportunidades e substituirão o amadorismo que hoje reina nas indústrias”. Segundo Fortes, a grande empresa já possui estrutura para contratar uma consultoria que faça este tipo de trabalho. Confiante, ele aposta no sucesso a médio prazo. “Em cinco ou seis anos, o tecnólogo, como é chamado este tipo de profissional, será muito requisitado e seu conhecimento será fundamental para atender as exigências do mercado”.
Enquanto isso não acontece, as pessoas que já trabalham na área tentam driblar as dificuldades do dia a dia com a constante reciclagem. Maurício Vasques, 31 anos, trabalha há 16 anos na empresa de roupas Santista, dois deles exercendo a função de gerente de produção. Formado em Administração de Empresas, com pós-graduação em Marketing – que ele considera fundamental para a sua profissão – seu trabalho é detectar as necessidades do consumidor e transformá-las em produto.
O gerente acredita que um curso na área é interessante por dar uma visão global, mas aposta que a prática ainda é a melhor escola e a evolução depende dos conhecimentos adquiridos. “O mercado muda muito de produto para produto e só temos como saber destas limitações no dia-a-dia”, garante.
Divergindo dessa opinião, o microempresário Carlos Eduardo Vieira, de 37 anos, interessou-se pelo curso durante uma viagem à Alemanha e já está fazendo o segundo semestre. Para ele, o curso é bastante importante. “Depois de tantos anos lidando com a parte prática você tem de organizar o que sabe e buscar conhecimento.” Proprietário da Século Um, empresa fabricante de camisetas promocionais, ele ressalta que as novidades são constantes e o curso lhe trouxe uma série de detalhes que até então desconhecia. “Mesmo estando há 16 anos na área, tenho muito a aprender sobre o setor têxtil”, garante ele.
Publicada originalmente no Jornal Diário Popular em 29 de abril de 2001 - Caderno de Empregos - Ano 4 - Número 193