Por Patricia Morgado
Eles não usam as longas capas de gabardine, nem fumam cachimbos, como nos filmes ou livros de suspense. Para descobrir detalhes importantes da vida alheia, de questões conjugais a fraudes realizadas numa empresa, os detetives se utilizam de acessórios sofisticados, como microcâmeras, detectores de gravação ou de grampos nos telefones e binóculos com raios infravermelhos.
Dados do Sindicato dos Detetives Particulares, Escritórios, Agências de Investigações Particulares e Similares do Estado de São Paulo (Sindesp) indicam que há no Estado mais de 500 mil detetives. Deste total, metade atua na Capital.
Para contratar esse profissional, normalmente o interessado faz uma pesquisa sobre seus conhecimentos de espião, informações que são emitidas pelo próprio sindicato. Por isso, interessados devem fazer um curso profissionalizante e, posteriormente, se filiar ao sindicato.
O presidente do Sindesp, Fernando Carvalho, de 50 anos, se diz preocupado com o número de detetives não formados que atuam no mercado. "Muitos se dizem detetives, mas não possuem conhecimento necessário para realizar a atividade. O profissional deve saber, por exemplo, que tipo de informação deve dizer ao cliente e como esta deve ser passada", ressalta.
Com 39 anos de experiência, a espanhola Ângela Berkeredjian, de 58 anos, decidiu ser detetive depois de ter flagrado o marido nos braços de outra mulher. Formada em Direito e Psicologia, ela atende de 20 a 25 casos por mês, como o de pais que querem saber se o filho usa drogas. "Já usei diversos disfarces, de gari a vendedor ambulante. Uma vez, me passei por cabeleireira e queimei o couro cabeludo de uma cliente", confessa.
O trabalho de um detetive é minucioso, podendo durar de um dia até três meses. Geralmente eles vendem seus serviços por um número determinado de dias. Todo o trabalho consiste, é claro, em descobrir se a suspeita do cliente é ou não verdadeira. Para tanto, eles se cercam de fotos, filmagens e relatórios descrevendo as atividades habituais do investigado. Muitas vezes, o detetive pode efetuar um flagrante com a ajuda da Polícia, caso seja pedido pelo cliente. Mas um detetive não faz somente investigações da vida alheia. Ele também pode ser chamado para desvendar casos sobrenaturais.
Eduardo Silveira, de 34 anos, recebeu uma dessas propostas. "Fui chamado para ficar durante uma semana vigiando uma fazenda em Itu, porque o proprietário queria comprovar a existência de discos voadores na região", recorda.
O salário desses profissionais é pago conforme o número e tipo de caso a ser desvendado. Geralmente o valor é cobrado por dia trabalhado. Um dia de trabalho com 8 horas de duração varia de R$ 80 a R$ 500.
Publicado originalmente no Jornal Diário Popular em 15 de julho de 2001 - Caderno de Empregos - Ano 4 - número 204