Como evitar que a maquiagem faça mal à saúde
Por Patricia Morgado
Eles têm a tarefa de embelezar e ressaltar a beleza das pessoas. No entanto, nem sempre os produtos de maquiagem conseguem cumprir este papel. Isso porque muitas vezes estes cosméticos podem desencadear irritações e alergias, além de manchas, acnes e flacidez em todo o rosto. Geralmente, este tipo de reação ocorre por conta de algum componente alérgeno presente na formulação, determinados conservantes e até mesmo fragrâncias.
No entanto, nem sempre a culpa pela reação é exclusivamente da fórmula. Utilizar produtos fora do prazo de validade, ou compartilhar batons, sombras, máscara de cílios e outros itens com uma ou muitas pessoas (caso das maquiagens de provador) são atitudes que contribuem para a transmissão de doenças, como conjuntivite e herpes.
“Maquiagens de provador não são apropriadas para serem utilizadas porque pode haver contaminação cruzada. Se uma pessoa que estava com conjuntivite usou a máscara de cílios do provador, aquele produto estará contaminado e assim que outra pessoa aplicar poderá desenvolver a conjuntivite. O mesmo pensamento vale para o batom. Se uma pessoa que estava com herpes utilizou o batom, a próxima que o aplicar poderá desenvolver a doença. Isso é muito mais frequente com agentes virais do que com agentes bacterianos”, analisa a dermatologista Tatiana Gabbi, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
A dermatologista explica que, além das alergias e da acne cosmética, determinados tipos de maquiagem também podem provocar manchas, dermatites, envelhecimento precoce da pele, flacidez e até mesmo intoxicação, se utilizados por longo prazo, devido à presença de substâncias contaminantes. Por isso, o ideal é verificar no rótulo do produto não só a data de validade, mas também os itens que compõem a formulação e descartar maquiagens de procedência duvidosa. A irritação, geralmente, acontece assim que o produto entra em contato com a pele.
Já a alergia, muitas vezes, pode se desenvolver apenas depois de muito tempo de o produto ter entrado em contato com a derme. “Antes de utilizar qualquer maquiagem, é importante verificar se esta tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), se foi testada dermatologicamente e se não é comedogênica (com propensão a entupir os poros e desenvolver acne cosmética). O uso de substâncias prejudiciais à pele por um tempo demorado pode também levar ao envelhecimento, flacidez e à própria intoxicação do organismo, por estar em contato com alguns metais que não são interessantes à nossa saúde”, comenta Tatiana.
Alergia à maquiagem nos olhos: como lidar
A dermatite de contato alérgica é a causa mais comum de alergia na pele das pálpebras e atinge de 30% a 77% das mulheres. Como os olhos são um dos pontos preferidos do rosto quando o assunto é maquiagem, é frequente encontrar casos de irritações e alergias. Principalmente porque o local tem a pele mais fina do corpo e determinados itens de maquiagem para a região podem conter metais como alumínio, níquel, cromo, chumbo e cobalto.
No caso do rímel, o risco é da formulação ter uma substância conservante chamada timerosal, um tipo de mercúrio capaz de ocasionar alergias nos olhos e nas pálpebras. “A alergia à maquiagem pode se manifestar tanto em pessoas que apresentam diversos tipos de reações alérgicas quanto naquelas que nunca tiveram histórico do problema. Geralmente, pó, lápis e rímel causam bastante alergia, mas isso vai depender da sensibilidade de cada um”, descreve a oftalmologista Tatiana Nahas, chefe do Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de São Paulo.
Quando o quadro é desencadeado, é comum ocorrer sintomas como coceira, inchaço e vermelhidão. Ao primeiro sinal, a recomendação é retirar toda a maquiagem e fazer compressa com água gelada filtrada. “Não é gelo, nem água boricada ou soro fisiológico. Deve-se usar água mineral geladinha do filtro, embebê-la em uma gaze ou algodão e fazer compressas geladas em cima dos olhos”, aconselha a oftalmologista.
Se os sintomas persistirem, deve-se procurar atendimento médico imediato e entrar em contato com o fabricante para expor o ocorrido. De acordo com Tatiana, muitos tratamentos são feitos com corticoide tópico, por meio da administração de cremes na região afetada. Vale lembrar que, uma vez alérgico, sempre alérgico. Mas, felizmente, para este grupo existe maquiagem específica, que não desencadeia alergia, chamada de hipoalergênica.
Substâncias perigosas nos produtos
Alérgenos mais comuns nas fórmulas de maquiagens: Igarsan DP 300, lanolina, ácido benzoico, ácido oleico, bálsamo de benjoim, cera de carnaúba, eritrosina, resinas naturais, corante vermelho brilhante, anilina, goma arábica, goma tragacanto, cloreto de cobalto, fragrâncias, níquel e cobalto.
Alérgeno sintético: citronela
Alérgenos naturais: lavanda, limão e benjoim
Conservantes: metilisotiazolinona (MIT) e parabenos, que são acusados de serem desreguladores endócrinos. Atrapalham os hormônios naturais e podem iniciar precocemente, por exemplo, a menstruação em meninas.
Alérgenos mais comuns em batons: óleo de mamona, óleo de rícino, eosina, ácido ricinoleico, ácido benzoico, ltol, rubino, BCA (pigmento vermelho), cera microcristalina, oxibenzona, propril galato, produtos alifáticos C, butilidroxitolueno, octilgalato, lanolina, cera de abelha, óleo de castor, cutilidroxianisol, butilidroquinona terciária, corantes, conservantes.
Publicada originalmente no Jornal Metrônews em 5 de setembro de 2018