Por Patricia Morgado
Carros estão entre as grandes paixões do brasileiro. Qualquer risquinho ou amassado no veículo é motivo de aborrecimento para muitos motoristas. É neste momento que um prestador de serviços, esquecido na maior parte do tempo, volta a ser lembrado: o funileiro.
O bom profissional pode ser comparado a um cirurgião plástico, efetuando reparos estéticos nas máquinas. Uma das inovações na área é o martelinho de ouro – técnica que consiste em desamassar a lataria sem danificar a pintura. Hoje, pequenas ou grandes colisões podem ser refeitas com o serviço do martelinho. Quem quiser aprender este método terá de treinar bastante no dia-a-dia nas oficinas, além de fazer cursos. Há vários deles no mercado que ensinam todo o serviço de funilaria, desde a substituição e reparação de peças até conceitos mais amplos, como trabalho em equipe e normas de segurança.
Bartolomeu Moio Júnior, de 44 anos, é instrutor orientador dos cursos da área de automobilística da escola Senai Almirante Tamandaré, em São Bernardo do Campo. “Há bom retorno financeiro, pois para os motoristas é mais econômico recuperar a parte atingida do que trocar a peça inteira”, avalia. Paulo Silva de Matos, de 31 anos, é um dos alunos do curso no Senai. “Decidi aprender a profissão porque sempre gostei de mexer com carros”, afirma.
Nem todos sonham em ter o negócio próprio. Isaqueu Pereira de Souza, de 42 anos, acha que ser empregado de uma oficina é uma grande oportunidade. Souza trabalha há 30 anos nessa profissão. Atualmente, ele presta serviços autônomos em domicílio e em oficinas. “Atender às pessoas em suas casas é uma ótima opção. Todo mundo quer comodidade e a gente tem de saber explorar isso”, ressalta.
Uma das grandes dificuldades dos funileiros autônomos, no entanto, é a concorrência de concessionárias e seguradoras que realizam esses serviços. Joaquim Carlos Silveira, 56 anos, trabalha há 41 com funilaria. Ele acha que o trabalho deve ser feito sem se pensar na concorrência. “Se você é um bom profissional, nunca deixará de ter serviço”, afirma.
Publicada originalmente no Jornal Diário Popular em 10 de junho de 2001 - Ano 4 - Número 199
Foto: Gisella Gutarra
Onofre Veiga Filho, de 49 anos, não se contentou em abrir uma oficina mecânica e utilizar o martelinho de ouro para exercer a sua função de funileiro. Ele decidiu criar seu próprio método de trabaho, com ferramentas que ele mesmo inventa e constrói.
Onofre utiliza chifres de búfalo, cipós, galhos de árvores, patas de veado e outros materiais naturais para desamassar os carros e, pasmem, sem danificar a pintura original.
Conhecido como Hurigeller, apelido dado pela própria clientela - em referência ao israelense Uri Geller, que na década de 1970 entortava colheres , segundo ele usando o poder da mente - Onofre revela timidamente seu segredo: "Saber qual a pressão exata que se deve colocar em cada lataria para retirar o amassado."
A ideia de fabricar as próprias ferramentas surgiu devido às referências do seu passado, que já morou durante muito tempo em uma fazenda na cidade de Maringá, no Estado do Paraná. Após 10 anos de trabalho na linha de montagem da Volkswagen, ele decidiu montar a sua própria oficina.
Há 27 anos na área, ele possui 400 ferramentas, feitas de acordo com os amassados. Ele atende pessoas que necessitam de pequenos reparos em seus veículos. Consertando aproximadamente dez carros por dia, garante que a rapidez e a paciência são requisitos fundamentais para o sucesso do trabalho e que o segredo está na divulgação. "Acredito que a melhor forma de divulgar o trabalho é o serviço bem-feito. É assim que se faz a clientela. A propaganda é a alma do negócio", avalia.
Publicada originalmente no Jornal Diário Popular em 10 de junho de 2001 - Ano 4 - Número 199