Por Patricia Morgado
Quando de uma hora para outra a mulher passa a sentir dores pélvicas, mais precisamente na região mais baixa do abdome, e percebe que o fluxo menstrual está muito mais intenso e irregular, é bom acender o sinal de alerta: é possível que esteja com mioma uterino, doença que costuma atingir mulheres em idade reprodutiva – na faixa dos 30 a 50 anos – e que forma tumores pélvicos benignos, dentro ou fora do útero. Estima-se que 75% das mulheres desenvolverão este problema ao longo da vida, sendo mais incidente entre as afrodescendentes. Os miomas (que são os tumores pélvicos mais comuns) são divididos em subserosos (quando se desenvolvem fora do útero), submucoso (quando crescem na parede interna do útero) e intramural (com crescimento entre as paredes do útero).
A presença de sintomas depende de fatores como localização, quantidade, tamanho e alterações na anatomia pélvica causadas pelo tumor, e somente 25% das mulheres costumam apresentar algum tipo de incômodo. Uma mulher pode desenvolver os três tipos de mioma de uma só vez e somente um exame clínico bem elaborado, associado a ultrassonografias pélvica e transvaginal, podem fechar o diagnóstico com precisão. Apesar de não ter uma causa conhecida, é sabido que os hormônios estrogênio e progesterona têm influência direta no surgimento deste quadro.
Outra pesquisa recente, da Fertility and Sterility, publicação da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) também associou a falta de vitamina D3 ao risco maior no desenvolvimento de miomas. “O estudo apontou a importância de avaliar os níveis de vitamina D nas mulheres, como forma de prevenir os miomas. A vitamina D exerce ação direta ou indireta em mais de 200 genes envolvidos na regulação do ciclo celular e participa de diversos processos no organismo”, diz o ginecologista Edvaldo Cavalcante, médico assistente do Setor de Algia Pélvica e Endometriose na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Segundo o especialista, entre as pacientes que apresentam sintomas, os mais frequentes são a hemorragia uterina, dores na região pélvica, anemia causada por falta de ferro, cólicas menstruais intensas, dores durante a relação sexual e uma necessidade maior de fazer xixi. O diagnóstico é baseado na avaliação clínica e nos exames de imagem, e a retirada do útero é o único tratamento definitivo para o mioma. “Porém, este tipo de cirurgia é usado como último recurso e não é uma opção para mulheres que desejam engravidar. Vale ressaltar que a maioria das mulheres só descobre a patologia em exames de rotina”, descreve.
Camila Ramos, ginecologista da Policlínica Granato, diz que, primeiramente, se tenta o tratamento clínico com pílulas anticoncepcionais, para evitar que ocorra o crescimento do mioma. Já para pacientes perto da menopausa, pode-se atuar com os análogos de GNRH (análogos de hormônios liberadores de gonadotrofina), que causam um bloqueio hipofisário. Isso consiste em interromper o funcionamento da glândula hipófise, localizada na base do cérebro e que controla, por exemplo, o ciclo hormonal do ovário e, subsequentemente, a ovulação. “Com isso, pode-se diminuir os tamanhos dos miomas. Se, mesmo com a pílula, a paciente permanecer com os sintomas, pode-se pensar na embolização das artérias uterinas (intervenção não cirúrgica) e até na cirurgia de retirada do mioma ou do útero. Tudo vai depender dos sintomas, da idade da mulher e do desejo dela em engravidar”, sinaliza.
Mioma e infertilidade
Dependendo da localização do mioma, há risco de infertilidade. Os miomas submucosos (que crescem na parede do útero) podem não só dificultar a fixação do embrião, como também proporcionar abortamento, parto prematuro ou até mesmo obstrução das tubas uterinas. Já os miomas intramurais, quando muito grandes ou muito numerosos, podem distorcer a cavidade uterina e dificultar o desenvolvimento da gestação. “O mioma é uma das causas de infertilidade, pois ele pode alterar a parte interna do útero e prejudicar a implantação da gravidez na fase inicial”, alerta Gustavo Maciel, ginecologista da Endoclínica São Paulo. Ele explica que há vários novos tratamentos sendo testados para tratamento do mioma, como o uso de aparelhos de ultrassom, ressonância magnética e medicamentos. Porém, a maioria ainda está em fase de testes.
Publicado originalmente no Jornal Metrô News em 15 de agosto de 2018