Por Patricia Morgado
A globalização promovida pelos meios de comunicação, transporte e o comércio tornou o contato entre os povos tão estreito que ter conhecimento de outro idioma é hoje um requisito essencial nas relações de trabalho. O tradutor e intérprete é o profissional que torna possível a interação entre várias obras, documentos, discursos de celebridades, textos literários e jurídicos.
Como tradutor, pode-se trabalhar em empresas especializadas em tradução, editoras, produtoras de cinema ou fazendo legendagem de filmes. Como intérprete, é possível atuar em palestras e conferências, fazendo a tradução simultânea das falas do interlocutor ou como acompanhante de estrangeiros.
Jason Richard Stevens, de 25 anos, trabalha desde os 15 como intérprete. Apesar de ser brasileiro, seus pais são de origem estrangeira -- a mãe é austríaca e o pai é escocês, o que facilitou a aproximação com o idioma inglês. Stevens afirma que apesar do mercado estar saturado de profissionais que fazem tradução do inglês para o português, são poucos os que realizam um serviço de qualidade. "O profissional deve estar bem informado sobre tudo o que está acontecendo no outro pais, tendo contato com novas palavras, sabendo o que pode ou não ser traduzido", relata. Para ele, a Internet é primordial na realização do trabalho. "Hoje me comunico com o mundo pela Internet, o que facilita bastante o contato com a cultura e as expressões do país".
Quem não teve a mesma sorte de Stevens e pretende ingressar na área, deve inscrever-se num dos cursos universitários disponíveis no mercado. Algumas faculdades oferecem cursos de tradutor-intérprete como uma habilitação dentro do curso de Letras, caso do Centro Universitário Ibero-Americano (Unibero), enquanto outras oferecem especializações específicas, como a Universidade de São Paulo (USP). Existem também universidades que criaram cursos próprios para a formação deste profissional. A Universidade São Judas Tadeu é uma delas. Desde 1990, a instituição possui o curso de tradutor intérprete em inglês. Dione Notrispe, 61 anos, coordenadora do curso, afirma que não é necessário ter um conhecimento prévio do idioma. "Ensinamos tudo desde o início, só que de forma mais acelerada", ressalta.
A coordenadora acredita que o setor está crescendo muito devido ao aumento do número das multinacionais, que cada vez mais exigem o inglês como segundo idioma. "O campo de trabalho é vasto, e tudo dependerá do conhecimento de cada profissional", revela.
Quem já é tradutor-intérprete poderá se especializar. Há no mercado cursos de tradução e de legendagem e tradução simultânea. É importante lembrar que nenhuma faculdade oferece curso de tradutor-intérprete para línguas menos comuns, como árabe e o armênio. Por isso, a opção é cursar a faculdade de letras no idioma pretendido e, posteriormente, tentar aperfeiçoar o idioma no país de origem da língua.
Samir El Hayek, de 59 anos, é secretário do Centro de Divulgação do Islã para a América Latina. Nesse órgão, ele realiza tradução de diversos documentos originários do Oriente Médio. Trabalhando há 30 como tradutor e intérprete em árabe, ele também possui um escritório em São Bernardo do Campo onde oferece os seus serviços como autônomo. "Trabalho em conferências, sermões e palestras. Além disso, traduzo documentos e livros religiosos," afirma.
Um de seus principais trabalhos foi a tradução do Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos. "Levei dez anos para traduzi-lo, mas valeu a pena", confessa. Hayek diz que o mercado é carente de profissionais que saibam traduzir outros idiomas. "Como existe pouca gente com conhecimento em árabe no Brasil, sempre tenho trabalho para fazer. Já traduzi mais de 100 livros", revela.
A média salarial desses profissionais é variável. Muitos trabalham como autônomos e cobram por hora trabalhada, o que pode chegar a R$ 4 mil, numa carga horária de 40 horas mensais.
Publicado originalmente no Jornal Diário Popular em 24 de junho de 2001 - Caderno de Empregos - Ano 4 - número 201