Por Patricia Morgado
Considerada uma das principais doenças do aparelho reprodutor feminino, a endometriose atinge até 15% das mulheres brasileiras em idade fértil e é caracterizada pela presença de tecido endometrial – semelhante ao que reveste a cavidade uterina – fora do útero. Este tecido pode surgir em locais como tubas uterinas, vagina, bexiga, peritônio, intestino, ligamentos útero-sacros e, em casos mais raros, até mesmo em regiões como nervos, diafragma e pulmões.
Os sintomas da endometriose incluem forte dor pélvica, infertilidade, dores durante ou logo após a relação sexual, fluxo menstrual abundante e cólica menstrual. Contudo, como o tecido pode aparecer em muitos locais diferentes, tais sinais variam, de acordo com o caso. Este é um dos motivos que leva, muitas vezes, à demora do diagnóstico, que pode exigir anos para que seja fechado (veja gráfico).
“Nem todas as mulheres com endometriose irão apresentar sintomas. Muitas, inclusive, só descobrem quando estão tentando engravidar, já que a infertilidade pode afetar cerca de 50% das pacientes com a doença, que também pode ocasionar dores ao urinar, dor na região lombar, sangramento anal na época da menstruação e problemas gastrointestinais”, conta Edvaldo Cavalcante, ginecologista e cirurgião ginecológico do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.
Segundo ele, que acaba de divulgar uma pesquisa em parceria com o Grupo de Ajuda às Portadoras de Endometriose e Infertilidade (Gapendi), o quadro é crônico, não tem cura e afeta a qualidade de vida como um todo. “Muitas pacientes precisam ir ao pronto-socorro para controle da dor. Esta é, sem dúvida, o tópico que mais afeta a produtividade, sem contar as ausências para o tratamento, consultas e exames”, ressalta o especialista, que ouviu 3 mil mulheres entre os meses de janeiro e fevereiro de 2018.
De acordo com a pesquisa realizada, a endometriose afeta a qualidade de vida e a produtividade. Tanto, que 73% admitem já ter se ausentado do trabalho por causa da doença; 38% levaram de cinco a oito anos para receber o diagnóstico; e 80,9% disseram que já se sentiram impedidas de executar determinadas ações por conta da doença. “É muito importante que a paciente busque, além do tratamento dos sintomas, apoio psicoterápico para lidar com as consequências emocionais que o problema causa”, frisa o Dr. Cavalcante.
Tratamento requer cuidados pontuais
Além da avaliação clínica, o diagnóstico da endometriose é realizado por meio de exames de imagem, como ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética. Já o tratamento, na maioria dos casos, baseia-se em medicamentos para controlar os sintomas e suspender a menstruação, com uso de terapia hormonal. A cirurgia é recomendada, principalmente, nos casos de dor crônica ou quando a mulher deseja engravidar. Nesse caso, é necessária internação de 24 a 48 horas e utilização de anestesia geral.
“O tratamento depende da gravidade da doença. Ele pode ser feito com a remoção dos focos da doença por videolaparoscopia ginecológica e com o uso de hormônios sexuais, como a gestrinona (implante hormonal), progestágenos (dispositivo intrauterino – DIU) ou anticoncepção oral”, afirma Maria Rita Curty, ginecologista do Hospital e Maternidade São Cristóvão.
A médica ressalta que o desenvolvimento do tecido fora do útero só é evitado após a menopausa. “O que conseguimos antes disso é estabilizar a doença para que não surjam novos focos”, descreve.
Publicado originalmente no Jornal Metrô News em 06 de junho de 2018