Por Patricia Morgado
Após os surtos de febre amarela e gripe, outra doença tem preocupado a população brasileira: o velho sarampo. Erradicado no Brasil em 2016, ele voltou à tona com casos nos Estados do Amazonas e Roraima, além de registros isolados no Rio de Janeiro e São Paulo. Altamente transmissível, a doença é passada de uma pessoa para outra por meio de secreções, como tosse, espirro, fala e até mesmo contato com as fezes.
Causada pelo Morbilivírus, o sarampo permanece no organismo do infectado de duas a três semanas. Apesar das manchas vermelhas na pele – chamadas de exantema – serem os indícios mais característicos, os sintomas da doença começam a se manifestar bem antes da erupção cutânea, com febre alta (acima de 38.5) e ataque às mucosas do corpo, podendo ocasionar coriza, conjuntivite, diarreia, vômito, dor de cabeça, tosse, secreções, congestão nasal, lesões na boca e um intenso mal estar. “O que chama a atenção é que o vírus atinge todas as mucosas. Por isso, o doente vai ter todos os sintomas recorrentes da mucosa agredida. Na boca, aparece uma mancha esbranquiçada, na altura dos dentes molares, que não sai. A presença dessa mancha branca, além de todas as mucosas comprometidas, fecha o diagnóstico, praticamente”, afirma Roberto Focaccia, infectologista e professor livre-docente da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, geralmente o exame de sorologia confirma as suspeitas. Contudo, o diagnóstico costuma ser clínico e infectologistas e pediatras são os especialistas mais indicados para detectar a doença.
De acordo com Luiz Fernando Ferrari Neto, diretor da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Fehoesp), as equipes médicas devem estar atentas para que a doença seja detectada o mais rápido possível para que, assim, as autoridades possam agir. Atenta ao problema que se alastra, a entidade acaba de lançar uma campanha para alertar sobre a importância da rapidez no diagnóstico e nas notificações. “Os médicos mais novos não conhecem as doenças erradicadas há muitos anos no Brasil. Por isso, a importância do alerta”, analisa.
Vale destacar que não existe um tratamento específico para o sarampo e que o combate é embasado no sentido de conter os sintomas ocasionados, com administração de antitérmicos (para evitar febre alta), hidratação constante e ações específicas de acordo com as mucosas afetadas. Em crianças também é recomendado, de acordo com o Ministério da Saúde, a administração de vitamina A, com o intuito de evitar o agravamento da doença. Se não tratado, a moléstia pode levar à morte, em decorrência das complicações que desencadeia, ou deixar sequelas, como a encefalite, um tipo de inflamação aguda no cérebro.
Estar com o calendário de vacinação em dia é a maneira mais segura para prevenir o contágio do sarampo. Geralmente, a vacina é tomada aos 12 e aos 15 meses de vida (por conta das vacinas Tríplice Viral e Tetraviral). Aqueles que nunca se imunizaram devem aproveitar entre os dias 6 e 31 de agosto, quando o Ministério da Saúde lançará a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Sarampo. A vacinação será focada em pessoas que não tomaram as duas doses na infância. Contudo, gestantes, menores de seis meses, alérgicos a proteína do ovo e imunocomprometidos não devem receber a vacina.
Para os maiores de 49 anos, a recomendação é passar por avaliação médica, para que se verifique a necessidade de se vacinar ou não, já que o preparado biológico é feito com vírus vivo. As vacinações de bloqueio, por enquanto, estão sendo dadas nos locais onde o vírus está mais atuante, caso de alguns Estados da região Norte do Brasil. O objetivo com este tipo de ação (bloqueio) é imunizar toda uma localidade, em caso de surto, visando proteger aqueles que ainda não tiveram contato com o vírus e, literalmente, interrompendo o processo de transmissão. “Caso o problema se expanda, é recomendada uma dose de reforço, mas isso depende da evolução do quadro. Não deve haver pânico na população”, diz Roberto Focaccia, infectologista e professor livre-docente da Universidade de São Paulo.
Pessoas que nunca foram vacinadas contra o sarampo devem se dirigir aos postos de saúde. A dose dependerá da idade. O intervalo entre uma dose e outra é de um mês.
Publicada originalmente no Caderno Conexão Saúde do Jornal Metrô News em 18 de julho de 2018