Por Patricia Morgado
Fazer uma tatuagem é um procedimento relativamente simples e cada vez mais corriqueiro. Mas é necessário se atentar a detalhes que vão muito além da escolha do desenho e do estúdio. Tudo para evitar problemas que um trabalho feito de maneira indevida e não planejada pode desencadear, tais como alergias, infecções, micoses e até mesmo hepatites B e C e a transmissão do vírus HIV, causador da Aids.
Os cuidados daqueles que desejam fazer um desenho permanente na pele devem começar muito antes, com o levantamento do histórico pessoal de alergias e se a vacina de hepatite está em dia. “A imunização contra as hepatites B e A são fundamentais. É feita por meio de doses que devem ser tomadas até 15 dias antes da realização da tatuagem, caso a pessoa não esteja ainda imunizada”, diz Eitan Berezin, professor titular de Infectologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e médico do Hospital Emílio Ribas.
Berezin explica que os sintomas da hepatite variam, mas ressalta que a doença pode demorar anos para apresentar sintomas. É o caso, por exemplo, da hepatite B. Infecções por bactérias, fungos e vírus também podem ocorrer. Inchaço, vermelhidão e dor após o procedimento são sinais que merecem atenção.
Com o passar do tempo, nódulos, inchaço, coceira e alterações da coloração também podem indicar que algo não está certo. “As infecções mais superficiais, como as bacterianas, são as mais frequentes e se mostram como crostas amarelas, vermelhidão e dor local. Estas podem se apresentar como coceira”, descreve Cristiano Horta, doutor em Ciências na área de Oncologia, chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital Ipiranga e consultor da Clínica Radiológica Yeochua Avritchir.
Com relação à associação entre tatuagem e alergias, Dr. Horta comenta que um dos motivos é a presença de diversos pigmentos utilizados, oriundos de metais, produtos químicos e alimentos. De acordo com o especialista, a cor mais frequente relacionada à reação alérgica é a vermelha, mas o pigmento preto também pode causar alergia.
Este sintoma pode ocorrer após a realização da tatuagem ou algum tempo depois. “Acalmar” a inflamação é o primeiro desafio. Em alguns casos, a retirada do pigmento é a solução para o problema, sendo então necessária a intervenção cirúrgica”, alerta. Em geral, proteger e manter a área limpa são cuidados elementares.
Um ponto importante para evitar problemas futuros com tatuagens é avaliar o profissional, os materiais utilizados e a infraestrutura do estúdio. Existem 150 mil destes locais no País, sendo 35 mil no Estado de São Paulo e 3 mil na capital paulista. Soma-se a esses dados a falta de regulamentação da profissão de tatuador e o crescimento de 20% neste segmento.
“É necessário ver se o material usado é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), se estão dentro do prazo de validade e onde o tatuador costuma descartar o lixo infectado”, ressalta Esther Gawendo, enfermeira e diretora executiva da Tattoo Week, importante feira do setor.
Segundo Esther, a tatuagem exige dos profissionais submissão a rigorosos protocolos de segurança, para impedir a contaminação e transmissão de doenças, como lavar as mãos, usar luvas e máscaras, manter o ambiente estéril e estocar material biológico em lugar adequado.
Representantes da Tattoo Week solicitaram, junto a Secretaria Municipal de Saúde, a formatação de um curso de Biossegurança para os profissionais da área. Esta iniciativa deve ser lançada em outubro e poderá ser feita on-line via aplicativo. Após a realização desse curso, o profissional fará uma prova e terá acesso ao certificado. Assim, o cliente poderá escolher o estúdio verificando se o tatuador fez o curso de Biossegurança.
Matéria publicada originalmente no Caderno Saúde do Jornal Metronews em 23 de maio de 2018